A mochila colorida traz dentro uma toalha, uma camisola, alguns produtos de higiene, umas caneleiras, um estojo da escola com canetas e um caderno. Do pequeno bolso de fora, Rui tira um bloco de notas de capa amarela que funciona como agenda, como sítio onde aponta os seus pensamentos e onde tem também apontado o dinheiro que está a dever “a quem me ajuda”. A pele morena herdou-a do lado materno, com descendência brasileira, e os olhos verdes dão-lhe a vivacidade dos seus 23 anos. Calças descaídas e boné vermelho, só lhe falta uma prancha com rodas para parecer um qualquer miúdo que gosta de desportos radicais. Aliás, um skate era algo que Rui gostava de ter mas que não tem possibilidades para comprar. Isso e poder jogar futebol. Faz-se acompanhar de uma bola mas as sapatilhas que traz calçadas já demonstram muito uso e não aguentariam certamente uma partida na rua.
Os sonhos de Rui são muitos. Gostava de voltar a estudar, depois de ter interrompido o curso profissional de técnico de higiene e segurança no trabalho na APRODAZ no 12º ano. “Até tinha boas notas, mas não me interessei muito pelo curso” e o decréscimo do valor da bolsa de estudo que recebia na altura ditaram a retirada da escola. “No primeiro ano a bolsa eram 200 euros mas depois no 3º ano reduziu bastante”, refere ao acrescentar que preferia ter enveredado por um curso de filosofia ou de artes que é o que pretende voltar a estudar.
Enquanto estudava, o pai também o ajudava com a alimentação mas “a certa altura negou-me comida” e não quis que o filho voltasse a casa. “O meu pai tem cancro, é doente e pôs-me fora de casa”, lamenta. Quanto à mãe “também não quer saber de mim” e apesar de tentar procurar a progenitora “ela manda-me embora e até já me desejou a morte”.
Rui tem problemas do foro psicológico, está a viver na rua há cinco anos e só interrompeu este ciclo durante dois anos quando uma das irmãs, a viver no continente, lhe arranjou trabalho. Foi para lá durante dois anos e voltou no ano passado porque o trabalho acabou. Diz que “acarretava ferro 12 horas por dia. Trabalhei com decapagem e pintura e acarretava ferro 12 horas por dia e se houvesse trabalho era sábados e domingos até às 2 da manhã. Mas quando isso acontecia o patrão tinha consciência e levava-nos a jantar fora”.
Depois regressou e a família continuou a não querer saber dele. Nem o pai, nem a mãe, nem as restantes irmãs que vivem nos Estados Unidos da América, e que não conhece, nem a outra irmã que vive em São Miguel.
Rui diz que está “desesperado”, afirma que quando pede algum dinheiro para comer as pessoas lhe viram as costas e que “se for preciso ainda gozam com a minha situação de dormir na rua, mas eu não durmo na rua porque quero. Durmo na rua porque não tenho outra hipótese” e responde que já esteve numa espécie de casa abrigo que dá guarida a pessoas sem-abrigo. Por isso diz que não quer voltar para a Associação Novo Dia nem quer ir para nenhum lar e apresenta os seus motivos: “gosto de estar no meu silêncio e se vou para lá é só confrontos, brigas, facadas. Já estive lá, sei como é e por isso não quero voltar a lá estar”.
Por enquanto vive “num descampado onde não apanho água quando chove”, toma banho quando pode e anda quase sempre com uma mochila e com uma mala de viagem que por vezes pede “ao senhor João do restaurante Barriga Cheia que é uma pessoa em quem eu confio e que confia em mim e que me deixa ficar lá a outra mala que é pesada”.
A sua vida diz “resume-se a duas malas”, mas preferia que “se resumisse a duas malas guardadas num quarto e a um trabalho ou então que pudesse terminar o meu curso”. Diz que gostava de ter um quarto só seu, “em que tivesse a chave e pudesse usar como meu”. Mas não tem rendimentos nem para alugar um quarto, nem para comer, “nem para prosseguir os meus estudos”.
Os sonhos de Rui são muitos. Gostava de voltar a estudar, depois de ter interrompido o curso profissional de técnico de higiene e segurança no trabalho na APRODAZ no 12º ano. “Até tinha boas notas, mas não me interessei muito pelo curso” e o decréscimo do valor da bolsa de estudo que recebia na altura ditaram a retirada da escola. “No primeiro ano a bolsa eram 200 euros mas depois no 3º ano reduziu bastante”, refere ao acrescentar que preferia ter enveredado por um curso de filosofia ou de artes que é o que pretende voltar a estudar.
Enquanto estudava, o pai também o ajudava com a alimentação mas “a certa altura negou-me comida” e não quis que o filho voltasse a casa. “O meu pai tem cancro, é doente e pôs-me fora de casa”, lamenta. Quanto à mãe “também não quer saber de mim” e apesar de tentar procurar a progenitora “ela manda-me embora e até já me desejou a morte”.
Rui tem problemas do foro psicológico, está a viver na rua há cinco anos e só interrompeu este ciclo durante dois anos quando uma das irmãs, a viver no continente, lhe arranjou trabalho. Foi para lá durante dois anos e voltou no ano passado porque o trabalho acabou. Diz que “acarretava ferro 12 horas por dia. Trabalhei com decapagem e pintura e acarretava ferro 12 horas por dia e se houvesse trabalho era sábados e domingos até às 2 da manhã. Mas quando isso acontecia o patrão tinha consciência e levava-nos a jantar fora”.
Depois regressou e a família continuou a não querer saber dele. Nem o pai, nem a mãe, nem as restantes irmãs que vivem nos Estados Unidos da América, e que não conhece, nem a outra irmã que vive em São Miguel.
Rui diz que está “desesperado”, afirma que quando pede algum dinheiro para comer as pessoas lhe viram as costas e que “se for preciso ainda gozam com a minha situação de dormir na rua, mas eu não durmo na rua porque quero. Durmo na rua porque não tenho outra hipótese” e responde que já esteve numa espécie de casa abrigo que dá guarida a pessoas sem-abrigo. Por isso diz que não quer voltar para a Associação Novo Dia nem quer ir para nenhum lar e apresenta os seus motivos: “gosto de estar no meu silêncio e se vou para lá é só confrontos, brigas, facadas. Já estive lá, sei como é e por isso não quero voltar a lá estar”.
Por enquanto vive “num descampado onde não apanho água quando chove”, toma banho quando pode e anda quase sempre com uma mochila e com uma mala de viagem que por vezes pede “ao senhor João do restaurante Barriga Cheia que é uma pessoa em quem eu confio e que confia em mim e que me deixa ficar lá a outra mala que é pesada”.
A sua vida diz “resume-se a duas malas”, mas preferia que “se resumisse a duas malas guardadas num quarto e a um trabalho ou então que pudesse terminar o meu curso”. Diz que gostava de ter um quarto só seu, “em que tivesse a chave e pudesse usar como meu”. Mas não tem rendimentos nem para alugar um quarto, nem para comer, “nem para prosseguir os meus estudos”.
Apelo de quem ajuda
Para já pediu ajuda a Conceição Correia que ajuda outros sem-abrigo e repatriados. Foi com Conceição Correia que se dirigiu à divisão de acção social da Câmara Municipal de Ponta Delgada, de onde o encaminharam para uma consulta de psiquiatria de urgência. Estava desorientado e descompensado mas assim que começou a tomar a medicação, na segunda-feira, sente-se “mais calmo e já me sinto melhor”, avisa. A psiquiatra passou-lhe uma declaração em como não pode trabalhar, por estar ainda muito descompensado, já que a situação de saúde pode evoluir positivamente ou não.
Rui já tem também todos os documentos que lhe permitem requerer o Rendimento Social de Inserção mas “primeiro tem de estar estável para conseguir os seus objectivos” adverte Conceição Correia.
A mulher que já ajudou a recuperar vários repatriados deixa um alerta e um pedido a todas as pessoas que se cruzam com o Rui pela rua “para não olharem para ele como um drogado que anda pelo caminho. Ele não é drogado. É uma pessoa que está muito descompensada” e que terá sofrido maus tratos físicos e psicológicos em casa dos pais.
Agora quer integrar-se na sociedade, quer conviver com jovens da sua idade mas “não pode fazer isso dormindo no caminho”, alega Conceição Correia que pede ajuda para o Rui. “Dêem-lhe os seus sonhos. Ele quer um skate, uma bola, umas sapatilhas para jogar à bola. Precisa de tudo e de mais alguma coisa. Precisa de um quarto”, refere.
Quanto à independência, Rui diz que é trabalhador pois “aos cinco anos já andava de botas de cano a trabalhar na terra como um homem de 50”, admite que sabe cozinhar e sabe “desenrascar-se sozinho porque tenho 23 anos mas tenho uma história bem grande”.
Conceição Correio refere que “o Rui é uma pessoa nova, tem a sua vida pela frente, tem sonhos” e por que o jovem lhe faz lembrar o seu próprio filho que tem actualmente 24 anos e a quem tentou dar tudo na vida, apela a que o ajudem. Aos próprios colegas de trabalho tem pedido que doem “uns troquinhos em vez de tomar por exemplo um café fora. Ele precisa de comer porque está a tomar medicamentos de psiquiatria”, refere Conceição Correia.
A vida do jovem Rui parece que está agora a ter um novo fôlego para o ajudar a alcançar os seus sonhos.
Para já pediu ajuda a Conceição Correia que ajuda outros sem-abrigo e repatriados. Foi com Conceição Correia que se dirigiu à divisão de acção social da Câmara Municipal de Ponta Delgada, de onde o encaminharam para uma consulta de psiquiatria de urgência. Estava desorientado e descompensado mas assim que começou a tomar a medicação, na segunda-feira, sente-se “mais calmo e já me sinto melhor”, avisa. A psiquiatra passou-lhe uma declaração em como não pode trabalhar, por estar ainda muito descompensado, já que a situação de saúde pode evoluir positivamente ou não.
Rui já tem também todos os documentos que lhe permitem requerer o Rendimento Social de Inserção mas “primeiro tem de estar estável para conseguir os seus objectivos” adverte Conceição Correia.
A mulher que já ajudou a recuperar vários repatriados deixa um alerta e um pedido a todas as pessoas que se cruzam com o Rui pela rua “para não olharem para ele como um drogado que anda pelo caminho. Ele não é drogado. É uma pessoa que está muito descompensada” e que terá sofrido maus tratos físicos e psicológicos em casa dos pais.
Agora quer integrar-se na sociedade, quer conviver com jovens da sua idade mas “não pode fazer isso dormindo no caminho”, alega Conceição Correia que pede ajuda para o Rui. “Dêem-lhe os seus sonhos. Ele quer um skate, uma bola, umas sapatilhas para jogar à bola. Precisa de tudo e de mais alguma coisa. Precisa de um quarto”, refere.
Quanto à independência, Rui diz que é trabalhador pois “aos cinco anos já andava de botas de cano a trabalhar na terra como um homem de 50”, admite que sabe cozinhar e sabe “desenrascar-se sozinho porque tenho 23 anos mas tenho uma história bem grande”.
Conceição Correio refere que “o Rui é uma pessoa nova, tem a sua vida pela frente, tem sonhos” e por que o jovem lhe faz lembrar o seu próprio filho que tem actualmente 24 anos e a quem tentou dar tudo na vida, apela a que o ajudem. Aos próprios colegas de trabalho tem pedido que doem “uns troquinhos em vez de tomar por exemplo um café fora. Ele precisa de comer porque está a tomar medicamentos de psiquiatria”, refere Conceição Correia.
A vida do jovem Rui parece que está agora a ter um novo fôlego para o ajudar a alcançar os seus sonhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário